A VIDA NA ILHA: A pelada como ela é, nos tempos modernos
Em quase 60 anos de Caiçaras, o sócio Ricardo Brandão, o Ricardinho, viu a mudança do local do campão, que acompanhou a expansão do clube e, mais recentemente, a alteração do piso, passando da terra batida para a moderna grama sintética. Apesar do preconceito inicial dos ‘peladeiros’ que participam da atividade mais longínqua do clube – a Pelada de Sábado, que já foi tema até da saudosa coluna “A pelada como ela é”, do jornal O GLOBO –, a tecnologia conquistou a todos.
Para os sócios peladeiros, não há como deixar de enfatizar o apoio que a pelada das manhãs de sábado vem recebendo dos comodoros dos últimos anos, todos cientes da importância da manutenção dessa tradição.
“Bolas sempre boas, jogos de camisa, cronômetro, campo mantido em ótimas condições, aliás, muito bem tratado pelo querido Joel desde os tempos do saibro, em que ele secava o campo desde as 4h da manhã após noites de chuva com esponja de colchão de dormir, quiosque da resenha (Espaço Ramiro Valente) com instalações superconfortáveis e serviço de bar perfeito com bebidas geladas servidas pelo Rafa. Enfim, tudo de primeiríssima ordem”, comemora Ricardinho.
Victor Polonia, comodoro de 2018 a 2022, conta que um dos projetos de sua gestão foi resgatar o vínculo do futebol com o clube, com a transição da escolinha terceirizada do PSG para a criação de uma equipe própria e a formação dos Times Caiçaras. Mas, de cara, ele enfrentou um desafio: os peladeiros de sábado queriam que o campão, até então de terra batida, fosse restaurado, enquanto a equipe da escolinha, que jogava no campinho, queria a implantação da grama sintética no campão, para poderem usar também.
“Eu e o VC de Obras Sergio Rodriguez fomos atrás da melhor tecnologia de piso, com sistema de drenagem aprimorado e um agregado que, além da borracha, tem raspas de madeira, deixando o gramado com aparência mais natural e permitindo mais deslize. O Caiçaras passou a ter o campo de mais alto padrão do Rio de Janeiro. O resultado é que hoje está todo mundo feliz. E a pelada está mais requisitada, eles podem jogar mesmo quando chove, que antes não era possível”
O que não mudou é que, desde sempre, a briga é grande para conquistar vaga na primeira pelada, considerada a mais importante. É tão importante que já houve época, nem tão distante, de se madrugar no clube – chegar antes das 6h da manhã – para colocar o nome no quadro. Aliás, o quadro era motivo de muita confusão. Hoje, garantem os peladeiros, o processo está bem mais organizado e com critérios definidos, com o apoio de um gestor, o Thiaguinho. Normalmente, aparecem de 24 a 30 peladeiros de um grupo que ultrapassa 60 e a primeira pelada começa às 8h.
“Obviamente, mesmo com regras, há discussões são calorosas. Mas aí vem a regra principal: prevalece, quase sempre, a interpretação dos mais antigos. O problema é quando a discussão é entre eles”, brinca Ricardinho.
Porém, nada disso abala a amizade dos peladeiros nem impede que a pelada de sábado, segundo eles, a melhor do Rio de Janeiro, seja seguida da também melhor resenha da cidade. Tem gente que quer saber mais da resenha do que da bola.
Nos últimos 20 anos, a pelada de sábado vem passando por renovações de seus atletas, e é comum a mescla saudável de gerações, o que tem sido fundamental para a manutenção e até o aumento do quórum.
“Hoje há um bom número de partidas em que jogam juntos sobrinhos com tios, filhos com
pais e, se eu aguentar mais uns 5 anos, teremos até netos com avôs. Após as peladas, o goleiro Renha, que fecha o gol há 50 anos, continua no campo para ficar defendendo os chutes da criançada e futuros peladeiros que assistem os jogos”, conta Ricardinho, do alto de seus 67 anos completados nesta quinta, 21 de dezembro.
O mais importante, diz Ricardinho, é que ninguém, principalmente os mais velhos, quer jogar mal e perder a pelada. Isso faz com que todos se cuidem fisicamente durante a semana:
“Para mim, por exemplo, perder a pelada jogando mal é acabar já no sábado de manhã com o fim de semana. Então, ela cria um compromisso para cada um dos peladeiros cuidarem de sua saúde, fazendo musculação, correndo, pedalando, nadando… Ou seja, mantendo a forma para não decepcionar!”
Confira mais algumas fotos dos peladeiros antes e depois da reforma do campão: